Obras no Morro de Santo Antônio geram polêmica: Impactos ambientais e culturais em debate

Especialistas alertam sobre os danos irreversíveis à paisagem e à importância geológica do monumento histórico.

A finalização da parte topográfica e de limpeza para a estruturação de uma trilha alternativa no Morro de Santo Antônio, localizada em Santo Antônio do Leverger, tem gerado controvérsias. Enquanto a Secretaria de Estado de Infraestrutura e Logística (Sinfra) conclui a preparação do terreno para a implantação de uma trilha de pedra, que será incorporada às já existentes, moradores e turistas têm levantado preocupações sobre os danos à paisagem e ao patrimônio natural da região.

O Morro de Santo Antônio é considerado um importante ponto turístico e ambiental de Mato Grosso, especialmente por ser um Monumento Natural Estadual, reconhecido como uma unidade de conservação de proteção integral desde 2006. A área, que cobre 258 hectares, já vem sofrendo intervenções, e a recente obra, que inclui uma “cicatriz” visível na extensão leste do morro, está sendo vista como uma agressão ao equilíbrio natural e cultural do local.

Impactos Geológicos e Culturais

O professor doutor Auberto Siqueira, especialista em geociências da Universidade Federal de Mato Grosso, coautor de um estudo sobre as feições morfoesculturais do morro, explica que as intervenções no morro não se limitam aos impactos físicos, mas afetam também o valor cultural da paisagem. Para o especialista, a construção da trilha tem efeitos irreversíveis tanto nos atributos naturais quanto culturais do Morro de Santo Antônio.

“Ao considerarmos a paisagem, não estamos apenas observando os atributos físicos do terreno, mas também os significados que esses atributos carregam para a comunidade local. Essas obras representam uma intervenção irreversível de grande magnitude, tanto na dimensão física quanto na cultural”, afirma Siqueira.

Licenciamento Ambiental e Obra no Período Chuvoso

A Secretaria de Estado de Infraestrutura e Logística (Sinfra) informou que as obras realizadas no local possuem licença ambiental concedida pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema). No entanto, a execução dos serviços durante o período chuvoso, como aponta o especialista, é um fator que agrava os impactos ambientais da intervenção. A região, com fortes declividades e alta erodibilidade, é particularmente sensível a obras desse tipo, e o período chuvoso é o mais inadequado para qualquer construção.

Siqueira explica que, mesmo sendo uma obra necessária, realizar intervenções em uma unidade de conservação no período chuvoso é, no mínimo, uma decisão arriscada e que gera custos elevados. “Essas circunstâncias, normalmente, exigem obras emergenciais e não ações realizadas por mero desejo de embelezamento ou conveniência”, pontua o geólogo.

O Valor Geológico e Cultural do Morro

O Morro de Santo Antônio não é apenas um ponto turístico, mas também um verdadeiro “Morro Testemunho” nas geociências, como explica Siqueira. Sua formação resistiu a milhões de anos de processos erosivos e a enormes mudanças climáticas planetárias, como desertos e glaciações. Ao longo do tempo, enquanto outras elevações ao seu redor foram destruídas, o morro se manteve intacto, sendo um valioso patrimônio científico e natural.

“A resistência do morro está no equilíbrio delicado entre as forças do clima e a resistência das rochas que o compõem. Alterar esse equilíbrio por meio de obras invasivas só gerará a necessidade de mais intervenções para conter a erosão, o que resultará em uma descaracterização completa da unidade de conservação”, alerta Siqueira.

Além do valor geológico, o morro também é essencial para as comunidades locais, com ervas medicinais e uma grande variedade de habitats que beneficiam a fauna da região. A degradação do local não afeta apenas o meio ambiente, mas também compromete os recursos que são vitais para a população que depende da área para sua sobrevivência.

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Roselaine dos Anjos

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