Adoção em Mato Grosso: realidade e desafios para transformar vidas

Com 57 crianças disponíveis para adoção, Estado enfrenta barreiras legais e emocionais no processo de reinserção e adoção definitiva.

Em Mato Grosso, 57 crianças aguardam a chance de um lar definitivo nos abrigos estaduais. Esses menores, afastados de suas famílias por negligência, abuso ou violência, enfrentam um longo processo antes de serem habilitados para adoção. Enquanto isso, 628 pretendentes esperam na fila, sonhando em oferecer um novo começo.

Retrato das crianças disponíveis

Dos 57 menores, 19 são meninas e 38 meninos, com maior concentração nas faixas etárias até 4 anos (11 crianças) e entre 12 e 16 anos (12 crianças). A maioria é parda (39 crianças), e 31 não possuem irmãos.

Por que o processo é tão demorado?

Segundo Daisy Anne Marklew Guilem, presidente da Ampara (Associação Mato-grossense de Pesquisa e Apoio à Adoção), o tempo para habilitação de uma criança ou pretendente é extenso por conta das etapas legais e sociais envolvidas. “Quando a criança entra no abrigo, não é para ser adotada imediatamente. Primeiramente, busca-se a reintegração à família de origem. Apenas quando todas as tentativas falham, ela é habilitada para adoção”, explica.

As etapas incluem avaliação psicológica, investigação de vínculos familiares, parecer do Ministério Público e decisão judicial. A falta de equipes técnicas e varas especializadas também contribuem para a morosidade.

O perfil dos pretendentes e o dilema da adoção

Embora haja uma fila considerável de pretendentes, a maioria busca crianças pequenas, de até 6 anos, sem preferência de gênero ou cor. No entanto, a realidade das crianças disponíveis não corresponde a esse perfil: muitas têm mais de 7 anos, são alfabetizadas ou possuem irmãos.

“Existe um descompasso entre o perfil desejado e a realidade das crianças aptas para adoção”, afirma Daisy. Além disso, 80% dos pretendentes são casais inférteis que buscam viver a experiência da paternidade desde o início, o que limita ainda mais as possibilidades.

Acolhimento e estrutura

Mato Grosso possui 69 abrigos e lares temporários, sendo 8 deles em Cuiabá. Alguns municípios oferecem o programa “Família Acolhedora”, em que cidadãos habilitados cuidam temporariamente das crianças enquanto o processo de reinserção ou adoção não é concluído.

Desafios e esperança

A presidente da Ampara destaca que, além dos desafios legais, há questões emocionais: “Pretendentes podem ser desqualificados por não estarem preparados psicologicamente, seja por luto mal resolvido ou histórico de violência. Liberar uma criança para adoção sem essa segurança pode resultar em devoluções, o que é devastador para o menor”.

Apesar das dificuldades, o sistema busca aprimorar o processo e fomentar uma adoção consciente e amorosa. “Cada criança que encontra uma família é uma vitória. Ainda temos muito a avançar, mas a fila de pretendentes mostra que o desejo de mudar vidas é forte em Mato Grosso”, conclui.

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Redação MT Política

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