Fogo atinge áreas turísticas e aldeias indígenas enquanto autoridades trocam acusações sobre os responsáveis pelas queimadas no Estado.
O avanço descontrolado dos incêndios florestais em Mato Grosso está intensificando a pressão sobre a classe política do Estado. Em meio a uma das maiores secas da história, com mais de 150 dias sem chuva na Baixada Cuiabana, as queimadas têm gerado uma verdadeira “guerra de narrativas” entre autoridades que tentam apontar os culpados e justificar as ações de combate ao fogo.
O Pantanal, em Poconé, e pontos turísticos de Chapada dos Guimarães, como cachoeiras e áreas de visitação, foram severamente atingidos pelas chamas, levando ao fechamento de diversas áreas. Além disso, comunidades indígenas em aldeias estão sob risco, com o fogo avançando rapidamente e pouco suporte sendo oferecido.
Recursos e desafios no combate ao fogo
O comandante-geral do Corpo de Bombeiros de Mato Grosso, coronel Flávio Gledson Vieira Bezerra, afirmou que a corporação está atuando no limite da capacidade. Segundo ele, mais de R$ 360 milhões foram aplicados no combate a incêndios florestais nos últimos cinco anos. Neste ano, o Estado contratou 150 brigadistas e envolveu mais de mil militares em revezamento, além de parcerias com municípios e produtores rurais para fornecer veículos e equipamentos.
“Estamos no nosso limite, nunca tivemos tantas pessoas atuando como agora. Já prendemos 17 pessoas por incêndios criminosos. Uma pessoa foi detida em Sorriso por atear fogo em vários pontos da cidade, inclusive em uma propriedade rural”, relatou Bezerra.
Apesar dos esforços, a fumaça dos incêndios cobriu Cuiabá e outras cidades vizinhas, afetando a saúde da população e provocando a declaração de emergência em 58 municípios do Estado.
Disputa política e cobranças federais
O enfrentamento às queimadas também ganhou contornos políticos com a determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Flávio Dino, para que os Estados intensifiquem o envio de equipes ao Pantanal e à Amazônia. A cobrança, no entanto, não foi bem recebida pelo chefe da Casa Civil de Mato Grosso, Fábio Garcia, que afirmou que o Estado está cumprindo com seu papel e que o governo federal deveria reconhecer isso.
“O ministro Dino não falou com Mato Grosso. Estamos trabalhando intensamente, enfrentando incêndios naturais, acidentais e criminosos. Já pegamos 16 pessoas cometendo crimes ambientais”, rebateu Garcia, ao afirmar que a seca extrema é o principal agravante da situação.
O deputado estadual Carlos Avallone (PSDB), presidente da Comissão de Meio Ambiente da Assembleia Legislativa de Mato Grosso (ALMT), reforçou a importância de um trabalho conjunto e afirmou que o apoio do governo federal é crucial para lidar com a crise. “Toda e qualquer ajuda do governo federal é muito bem-vinda”, disse Avallone.
Eficiência das medidas em debate
Apesar dos discursos oficiais sobre a preparação do Estado ao longo dos últimos anos, o rápido avanço das queimadas levantou questionamentos sobre a eficácia das medidas adotadas. O governador Mauro Mendes, por sua vez, tem reiterado que o governo estadual fez investimentos significativos e que, em comparação a outros Estados, Mato Grosso está reagindo com rigor ao problema.
Enquanto o fogo continua a devastar áreas naturais e ameaçar comunidades vulneráveis, a pressão sobre o governo estadual e federal para ampliar as ações de combate e prevenção só aumenta, refletindo uma crise que, além de ambiental, também se torna um campo de disputas políticas e institucionais.