“Um alvo impensável” é a manchete do jornal Libération que estampa sua capa com uma foto da fachada Al-Shifa, alvo de bombardeios israelenses nos últimos dias na Faixa de Gaza. A matéria explica que Tel Aviv alega que o hospital serve de base para o grupo Hamas, supostamente armazenando material bélico e servindo de abrigo a terroristas.
Ao mesmo tempo, além de doentes, o estabelecimento acolhe cerca de 8 mil pessoas que se refugiaram no local, no norte do enclave, além de 3 mil pacientes, funcionários e médicos.
“Hospitais da cidade de Gaza se transformam em necrotérios” é o título de uma reportagem do jornal Le Figaro. Segundo o Ministério da Saúde palestino, é insuportável o cheiro de putrefação no hospital Al-Shifa, onde centenas de corpos de vítimas estariam apodrecendo pela impossibilidade de serem sepultados.
O diário destaca que esse não é o único hospital a sofrer as consequências da guerra: o Al-Qods, da organização humanitária Crescente Vermelho palestino, parou de funcionar no último domingo (12/11).
Outros centros de saúde, como a Clínica Sueca, dentro do Centro de Refugiados de Al-Shati, e o hospital Al-Mahdi, foram bombardeados. Além do comprometimento de suas estruturas, médicos e enfermeiros também morreram nos ataques, reitera o texto.
“Em Gaza, o direito à vida foi extinto” é a manchete do jornal La Croix, que reproduz o testemunho do jornalista Mohamed Mhawish, correspondente do canal Al-Jazeera na capital do enclave.
Apesar da dificuldade de contato com moradores do local, o diário conseguiu reunir relatos enviados por aplicativo de conversa WhatsApp que retratam o horror da guerra e a falta de perspectiva das pessoas.
O fotógrafo Motaz Azaiza diz ao La Croix ter visto corpos enrolados em cobertores e empilhados no hospital Al-Shifa, pela impossibilidade das famílias realizarem funerais. Uma família que partiu em direção ao sul do enclave preferiu levar consigo o cadáver do seu bebê que morreu no trajeto.
“A morte ronda e chega a cada instante”, diz o impresso, salientando o cálculo da médica palestina Samah Jaber, segundo o qual, uma pessoa morre a cada cinco minutos na Faixa de Gaza.
Biden pede “ações menos intrusivas” de Israel a Gaza
O presidente norte-americano Joe Biden pediu a Israel na segunda-feira (13) que proteja o principal hospital de Gaza, perto do qual estão ocorrendo combates entre o exército israelense e os combatentes do Hamas.
“Espero e conto com uma ação menos intrusiva no hospital”, disse ele na Casa Branca, quando perguntado pelos repórteres se ele havia discutido o assunto com os líderes israelenses. “O hospital deve ser protegido”, pronunciou.
O presidente dos EUA ainda acrescentou que um acordo para a “libertação de prisioneiros” ainda estava sendo negociado com a ajuda do Catar.
De acordo com um cirurgião da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF), centenas de pessoas estão presas no hospital Al-Shifa em condições “desumanas”. Israel insiste que o Hamas instalou sua infraestrutura em uma rede de túneis sob o hospital de Al-Shifa, mas o Hamas nega.
O prédio foi transformado em uma zona de guerra, enquanto os médicos e as organizações humanitárias estão alarmados com o destino de milhares de civis e pacientes.
“Corredor” de evacuação
Israel, que está ordenando que a população abandone as zonas de guerra, anunciou que um “corredor” de evacuação permaneceria em vigor para permitir que os civis deixassem o hospital de Al-Shifa, ao mesmo tempo em que admitiu que a área era palco de “intensos combates”.
A força israelense vem atacando incessantemente a Faixa de Gaza desde que os comandos do Hamas lançaram um ataque em seu solo em 7 de outubro, e vem conduzindo uma operação terrestre desde 27 de outubro com o objetivo de “exterminar” o movimento islâmico.
Do lado israelense, cerca de 1.200 pessoas foram mortas, de acordo com as autoridades, a grande maioria delas civis mortos no dia do ataque, em uma escala e com uma violência nunca vistas desde a criação de Israel em 1948.
Na Faixa de Gaza, os bombardeios israelenses mataram 11.240 pessoas desde 7 de outubro, a maioria delas civis, incluindo 4.630 crianças, de acordo com o Ministério da Saúde do Hamas.