O cantor sertanejo João Vitor Malachias, de 40 anos, que está preso por suspeita de matar e queimar o corpo da dentista Bruna Viviane Angleri, 40, é acusado de estuprar e engravidar uma ex-namorada. Segundo a vítima, o crime sexual aconteceu em 2017.
Em condição de testemunha protegida, a mulher relatou à Polícia Civil que teve um relacionamento amoroso com João Vittor, nome artístico do suspeito. Com o passar do tempo, o cantor sertanejo teria passado a adotar comportamento “agressivo e possessivo”.
A vítima afirma que foi estuprada por ele, e o crime resultou na sua gravidez. Após ela terminar o namoro e começar uma relação com outra pessoa, João Vittor também teria perseguido o homem e incendiado o seu carro.Play VideoNa investigação sobre o assassinato de Bruna Angleri, a Polícia Civil usa o depoimento da vítima de estupro para demonstrar que o suspeito teria histórico de violência doméstica e familiar.
Procurado pelo Metrópoles, o advogado Diego Emanuel Costa, que representa João Vittor, afirmou que seu cliente está “tranquilo” em relação às acusações. “Demonstraremos no transcorrer do processo sua inocência, caso haja denúncia”, afirmou.
A respeito da testemunha protegida, o defensor classificou as alegações como “infundadas”. “Já estamos tomando providências quanto ao crime de denunciação caluniosa.”
Feminicídio
O corpo de Bruna foi encontrado parcialmente carbonizado na manhã de 27 de setembro, em cima da cama, na casa onde ela morava em Araras, no interior paulista. Conforme revelou o Metrópoles, exames de raio-x realizados no Instituto Médico Legal (IML) também mostram que a vítima foi baleada no rosto.
Ex-namorado da dentista, João Vittor se tornou o principal suspeito do feminicídio após os investigadores descobrirem que Bruna tinha uma medida protetiva contra ele. A investigação corre sob segredo de Justiça.
Fotos da cena do crime mostram que só o lado da cama em que Bruna foi encontrada estava destruído pelas chamas. Segundo a investigação, também não havia “nenhum elemento que possa dar indicativo que ocorreu algum curto-circuito” ou “vestígio de incêndio meramente acidental” no cômodo.
“No quarto da residência onde se encontrava a vítima, percebemos que as marcas de fogo estavam direcionadas ao corpo de Bruna, dando a entender que tal ato foi realizado para acobertar a real causa da morte”, diz o relatório de investigação.
“Neste cenário, sem prejuízo da vinda dos laudos posteriormente, há prova da materialidade do delito de homicídio, que foi praticado com crueldade, com emprego de fogo, provavelmente após tortura e sem chances de defesa para a vítima.”
Câmeras de segurança
Na investigação, a Polícia Civil refez o passo a passo de João Vittor e de Bruna nas horas anteriores ao crime.
Por imagens de câmeras de segurança, os policiais descobriram que a dentista foi de carro para um bar na noite anterior ao assassinato. Ela deixa o estabelecimento sozinha às 22h34 e chega a sua casa 13 minutos depois.
As mesmas câmeras também flagraram que um veículo Honda Civic, registrado no nome da mãe de João Vittor, passou pelo bar quando Bruna ainda estava lá. Um garçom do local confirmou, em depoimento, ter visto o cantor no carro.
Ao levantar as imagens do condomínio onde a dentista morava, os investigadores perceberam uma “névoa de fumaça” registrada à 0h28. Segundo afirmam, a gravação mostra que o quarto de Bruna já estava pegando fogo nesse momento.
Arma no capô
Em depoimento, João Vittor declarou que passou aquela noite na casa da avó, que fica a cerca de quatro quilômetros do local do crime, aonde teria chegado por volta das 20h30.
Os policiais, entretanto, concluíram que o veículo do cantor sertanejo não estava estacionado na rua no horário que ele falou. Segundo a investigação, ele só chega na casa da avó à 0h58, já após o feminicídio, e sai novamente à 1h24, dirigindo um Fiat Doblô.
“Os fatos ocorridos demonstram que João Vitor ficou exatamente 25 minutos na casa de sua avó, certamente o tempo necessário para tomar um banho, trocar de roupa e sair novamente”, diz o relatório.
O destino do cantor era a casa do seu produtor, de acordo com a polícia. Lá, ele foi flagrado às 8h46, abrindo o capô do Fiat Doblô.
Em seguida, ele pega um objeto, que a polícia acredita ser o celular da vítima, e coloca no bolso. Depois, sai segurando algo, embrulhado no pano, que “muito se assemelha a um revólver”, de acordo com a investigação.
Na Justiça, a defesa alega que não haveria “qualquer prova robusta” de que João Vittor teria matado e queimado o corpo da ex-namorada. Também diz que o suspeito teria álibi, já que “estava em contato com os amigos durante toda a noite” e, portanto, não poderia ter cometido o crime.