Não existe, nas religiões de matriz africana, nenhum tipo de contato sexual ou toques íntimos em rituais. Esse é o alerta feito pelos membros da religião que, em Mato Grosso, tem mais de 3 mil casas religiosas. O assunto veio à tona após a prisão do “guia espiritual” e advogado Luiz Antônio Rodrigo da Silva, 49, investigado por abusar sexualmente de diversas mulheres durante supostos rituais de energização. Ele foi preso duas vezes no mês passado e a Polícia Civil já identificou 13 vítimas.
Essa prisão reacendeu a preocupação dos líderes religiosos quanto aos aproveitadores da fé, a intolerância e preconceito com essas religiões.
“Nos preocupa isso, pois não existe no Candomblé, na Umbanda e nem tampouco em qualquer segmento de matriz africana, prática litúrgica ou ritualística que envolva contato íntimo. Como toda e qualquer religião, as de matriz africana são voltadas ao bem estar espiritual das pessoas”, afirma o babalorixá, sacerdote de matriz africana e representante da Associação de Sacerdotes e Sacerdotisas da Umbanda e Candomblé, Paulo de Oxumare.
Há mais de 40 anos na religião e filho de umbandista, Paulo lembra que as religiões africanas sempre sofreram com discriminações, ataques e inverdades, e situações envolvendo supostos líderes religiosos e abusos são mais um dos problemas enfrentados, não apenas por essas, mas várias outras fés.
“Quem já não ouviu que matamos criancinhas, que fazemos esses sacrifícios, e agora questões de abuso. Mas não é verdade e é preciso que as pessoas estejam atentas e saibam identificar o que é o correto”. Conforme ele, no caso de problemas que envolvem, por exemplo, órgãos genitais, sexuais, tanto de homens quanto de mulheres, o orixá que cuida dessa parte é o Exu.
No entanto, não existe nenhum ritual feito que exija que outra pessoa toque as partes íntimas uns dos outros, algum ato libidinoso, prática de relação sexual ou até mesmo onde o sacerdote, o pai de santo ou a mãe de santo, passe a mão nas partes íntimas de alguém. Paulo lembra que essas orientações são importantes para que as pessoas, em especial mulheres, que são, segundo ele, as maiores vítimas desses crimes, saibam o que é certo e como identificar.
“Isso não existe, não é aceito. Não há de se despir, de ter toque, de ter beijos ou carícias. Não existe isso. O que a gente passa para essa situação é a sugestão de banho ou outras orientações, mas que quem realiza é a própria pessoa”